Crise na saúde: não é só a falta de pediatra!
*Publicada em 09.04.2019 às 09h10
A crise na saúde de Goiânia tem sido democrática. De modo geral, ninguém – até mesmo as crianças – escapa do transtorno vivenciado pela falta de profissionais e de estrutura nas unidades de saúde da capital.
Os problemas da pediatria são antigos e consequência de uma série de fatores, entre eles, a má gestão do sistema de saúde. Somente Goiânia possui cerca de 1 milhão e 300 mil habitantes e direcionar o atendimento de emergência e urgência pediátrica para um único local (Cais Campinas) demonstra falta de planejamento.
Em uma rápida visita ao Cais Campinas, é possível se deparar com a superlotação de pais desolados em busca de atendimento. Boa parte, relata não ter conseguido socorro nos outros Cais de Goiânia.
O curioso caso do colapso no atendimento infantil transcende a questão espacial e suscita outra discussão: por que nossas crianças não estão recebendo atendimento primário nas demais unidades de saúde da capital? Esse atendimento não é exclusividade do pediatra e poderia solucionar boa parte dos casos. Ele pode e deve ser feito por clinico geral capacitado ou pelo médico de família.
Basta lembrarmos do Programa de Atenção à Saúde da Criança (PAISC) criado em 1984 que capacitou médicos para o atendimento infantil com o intuito de prevenir e controlar doenças diarreicas e respiratórias, entre outras. A prevenção e a triagem evitariam a superlotação das unidades de referências destinadas a casos mais graves e de tratamento longo como é o caso do Hospital Materno Infantil.
Sabe-se que nos rincões desse país, a maioria das crianças são atendidas pelo médico do Estratégia Saúde da Família (ESF), já que esse atendimento está previsto nos pilares do programa.
Indiscutivelmente, a solução para a crise vai além da contratação de pediatras. É necessário rediscutir a lotação desses profissionais e atuação dos profissionais da atenção primária. Uma mãe não pode se deslocar do Jardim Itaipu até Campinas para socorrer seu filho.
Além de valorizar profissionalmente o quadro de servidores e condições de assistência, o Sindsaúde – como defensor da saúde pública de qualidade e eficaz – acredita que é preciso descentralizar o atendimento e implantar emergência pediátrica nos setes distritos da capital com equipes matriciais de referência e articuladas com a ESF. Porém, antes de tudo, é necessário mais empatia, sensibilidade e competência da atual gestão!